quarta-feira, 10 de junho de 2020

“SOMETHING JUST LIKE THIS” - PIPO (9 anos)


  Lembro do vô Mário tirando seu Opala dourado da garagem para me levar até o outro lado da cidade para que eu pudesse aprender como transformar em música o ruído que eu fazia no violão do tio Ri. Foi quando eu tinha uns 13 ou 14 anos e inventei de ter aulas de violão. Eu poderia dizer que alguns meses de “Meu limão, meu limoeiro / meu pé de jacarandá / uma vez esquindô lelê, outra vez esquindô lalá…” me deixaram bastante desanimado, mas depois de alguns anos de análise, não me permito mais responsabilizar o pobre limoeiro ou o professor.

Dia desses, ou seja, trinta anos depois do meu fracasso como um futuro rock ’n’ roll star, eu estava sentado na sua cama, brincando com o seu violão novo, obviamente fazendo barulho e arranhando os seus ouvidos e os do Guigo, que estavam ali perto. Despretensiosamente, e talvez também incomodado com os ruídos, você pegou seu outro violão, sentou do meu lado e começou a me contar como eu deveria fazer: “Papai, ponha esse seu dedo aqui, ó… Isso. Agora faz assim, uma pra baixo, uma pra cima… Acho que se você fizer assim é mais fácil para você…” E por aí fomos.




De repente, me percebo tomado por uma grande alegria ao poder reconhecer no som que saía do violão, mesmo ainda que muito distante do original, a música que há anos escutava nos CD's. Talvez por isso tenha demorado alguns minutos para eu me dar conta que você estava me ensinando a tocar violão, e eu estava aprendendo!

Eu sempre acreditei que você e o Guigo me ensinariam sobre sentimentos, sobre ser pai, sobre humanidades… enfim, coisas sobre as quais já escrevi em outros aniversários. Por outro lado, nunca duvidei que com o tempo eu aprenderia cada vez mais com vocês, seja sobre o último gadget, sobre alguma profissão que vocês escolheram seguir, “coisas sobre o céu, a terra, a água e o ar”… Mas eu realmente não poderia imaginar que você, com 8 anos, me ensinaria a tocar violão! Paciencioso e atento, você foi me mostrando que poderíamos formar uma bela dupla também na música.




Claro, como diz a canção que tocávamos “Nobody said it was easy / No one ever said it would be so hard”, mas assim é a vida, não é mesmo? Seja para aprender a tocar violão aos 43 ou para suportar uma quarentena, sem praticamente sair de casa durante 3 meses.

Pois é, este seu aniversário, assim como foi o do Guigo, está sendo bastante diferente do que poderíamos imaginar. Coronavírus, pandemia, quarentena, isolamento social… palavras que há poucos meses não faziam parte dos nossos vocabulários, já se tornaram velhas conhecidas. 

Porém, junto com essas palavras, vieram algumas preocupações: como um garoto super ativo, incansável e que está sempre correndo e pulando pode suportar essa quarentena? Você deu o seu jeito, não é mesmo? Criativo, intuitivo e sensível, construiu casas, cenários e shows no Minecraft ou com seus brinquedos. Assistiu a programas das casas mais extraordinárias do mundo com a mamãe, brincou e brigou com o Guigo e começou a fazer “lives” no seu Instagram. Mais um motivo para nos mantermos vivos e no “ao vivo” durante este período tão sombrio e repleto de inúmeras incertezas. Aliás, não teria jeito melhor de comemorarmos o seu aniversário do que fazendo mais uma “live” hoje, certo?

As “lives” despertaram um interesse ainda maior por músicas e bandas. “Papai, como chama essa música que tá tocando? Counting Crows é a sua banda favorita? A sua música favorita dessa banda é One? Essa é a mesma banda que canta The Scientist? Vocês foram no show do U2? O show do Coldplay que vocês foram foi em São Paulo ou no Rio?” E quantas outras perguntas e questionamentos que puderam ser feitos durante este último ano… E alguns que não puderam ser colocados em palavras, mas demonstrados em ações e sentimentos e precisaram de uma ajudinha nossa também, né? Lemos até um livro sobre “De onde viemos”, lembra?

Na música que você está aprendendo por último, “Something just like this”, o Coldplay canta:

“Where'd you wanna go?

How much you wanna risk?

I'm not looking for somebody

With some superhuman gifts

Some superhero

Some fairytale bliss

Just something I can turn to

Somebody I can kiss

I want something just like this”


Pipo, eu não sei quais os caminhos que você escolherá na sua vida. Se você será um artista, um arquiteto, um engenheiro, um professor, um médico, um psicólogo, um cientista maluco ou astronauta, até porque ainda faltam muitas léguas até que você precise decidir que caminho seguir. Mas torço muito para que você mantenha sempre dentro de você essa chama da busca pelo conhecimento, por aprender coisas novas, muito acesa. Acredito que ela venha a partir de uma fundamental disponibilidade para assumir que não sabemos sobre algo e desejamos saber. E isso é, ao mesmo tempo, reconhecer nossas limitações. Saber que não somos nenhum super-herói com poderes sobre-humanos ou que alcançaremos a alegria de um conto de fadas. Mais importante do que isso, é sabermos que temos ao quê e a quem recorrer, como hoje você recorre à sua música para lidar com a quarentena; e que você sempre terá, onde quer que cada um de nós estejamos, o papai, a mamãe e o Guigo para te dar um beijo de carinho.

Feliz Aniversário. Te amamos!

Guigo, mamãe e papai.



sábado, 28 de março de 2020

SEM FESTA OU SEIS FESTAS? CONTRASTES - GUIGO (6 anos)


Ontem, quando fui te dar um beijo de boa noite e dizer o que digo todas as noites para você (“Que o papai te ama muito mais que tudo e muito mais que o…), alegre e esperançoso pelo amanhã, te perguntei como tinha sido o seu último dia de 5 anos. Rapidamente você ficou pensativo e, sensível à finitude das coisas como você é, logo se entristeceu. 

Pensar no que está acabando, no que está chegando ao fim, é, na melhor das hipóteses, tentar lidar com as perdas, fazer um luto. Luto dos seus 5 anos, luto de uma idade que não volta, luto de uma festa de aniversário que não aconteceu, luto pela inocência que, cada vez mais é perdida… 




Brinquei com você dizendo que o dia anterior tinha sido o penúltimo dia dos seus 5 anos; e que no dia anterior ao anterior tinha sido o antepenúltimo dia dos seus 5 anos; e que no dia anterior ao anterior do anterior… rsrsrs. Porém, disse também que amanhã será o primeiro dia dos seus 6 anos e que o papai já tinha vivido 42 últimos dias de idades… 

Podemos olhar para trás e tentarmos lidar com o que já passou; ou, em alguns momentos, ficarmos apenas presos nesse passado. Também é possível sonharmos e tentarmos planejar um futuro incerto; ou então ficarmos também presos tentando viver no futuro, que ainda não chegou. Então, o que realmente temos é o agora. E, no agora, naquele agora, o que tínhamos era um ao outro, para tentarmos pensar no que pôde ser vivido e aproveitado, como experiência, no seu 5º ano.

Lembramos então da nossa viagem para o “HotBum-Bum Shakalaka!!!” com o Pipo, as primas Bia e Gabi e com o tio Fefê e tia Tati, que marcou o início de uma série de #BoysTrip. Será que conseguiremos este ano?

E foram tantas outras novidades e descobertas! Olhando para trás, com a mamãe e o Pipo, lembramos que você já sabe nadar sozinho; finalmente chegou o tão esperado ano de você poder estudar inglês, depois de inúmeras vezes você me perguntar quando que você iria poder estudar na Know How; teve a chegada da Luna, nossa hamster de estimação; e teve também o nascimento da priminha Clarice, que tanto encantou a nossa família! Seguindo alguns passos do seu irmão, agora você também gosta de Harry Potter e até já assistiu a alguns filmes dele! Ama brincar e construir mundos no Minecraft, e baixar inúmeros aplicativos e jogos no iPad; e, se a tia Carol precisou ir embora, ela também trouxe a tia Dé, com quem vocês adoram brincar…

Além de todas essas coisas, teve também a sua formatura! E ela foi do jeitinho que você gosta, com muita música, cantoria e diversão… A mamãe e eu ficamos muito orgulhosos por essa sua conquista! E agora, carinha, você já está no 1º Ano!!! E não foi só o portão de entrada que mudou, né? Agora você tem tarefa para fazer em casa e segue sendo alfabetizado, aprendendo a ler e a escrever, e sempre na busca de alfabetizar suas emoções.

Guigo, o que eu gostaria que soubesse é que a sua vida, para mim, para a mamãe e para o Pipo é uma festa! Ou melhor, 6 festas! 600 festas!!! 2190 dias de festas, alegrias e aprendizados. 

Mas hoje, infelizmente, não pudemos te dar a festa que havíamos planejado… os tempos são outros. São tempos de luto, de incertezas e de muita angústia. Torcendo para que este momento passe o mais rápido possível, deixo a música do Caetano, “Canto do povo de um lugar”, que tocou na sua formatura. Eu escutava essa música na vitrola da vovó Mariana e do vovô Omar quando eu tinha uns 9 ou 10 anos, e ficava imaginando esse povo e esse lugar e o quanto que deveria ser gostoso morar lá. Neste momento, escuto essa música como um esperança de que possamos ver o sol nascer todos dias, aproveitarmos produtivamente cada momento para que possamos curtir as noites com filmes, partidas de futebol de botão e muita brincadeira e jogos, sempre com o seu sorriso que é tão gostoso de ver.

Feliz Aniversário, Guigo! Te amamos,

Pipo, mamãe e papai.


Canto do povo de um lugar (Caetano Veloso)

Todo dia o sol levanta

E a gente canta ao sol de todo dia

Fim da tarde a terra cora

E a gente chora porque finda a tarde

Quando a noite a lua amansa

E a gente dança venerando a noite