domingo, 31 de julho de 2016

Férias? Sim, férias!!!


Sexta-feira, 15 de julho de 2016. Nosso primeiro dia de férias. A foto do post poderia ter sido tirada numa fazenda, num campo de futebol ou no gramado de um clube… Mas não foi. Ela foi tirada no canteiro central do quilómetro 41,5 da Rodovia dos Bandeirantes.
Quem acompanha o que escrevo talvez esteja acostumado a ler situações tragicômicas pelas quais passo em minha vida… Fazer um tiramissú que não dá certo ou trombar com uma D. Aparecida pelo caminho são algumas delas. Porém, esta é diferente. Certamente não é cômica, mas, ainda bem, também não é trágica!!!
Pois bem. Vamos lá!
Era a nossa única semana de férias em que, de fato, não trabalharíamos e escolhemos ir para São Paulo para levar os meninos ao zoológico, visitar parentes e amigos com bebês na barriga e recém nascidos, viajar para Santos e conhecer o estádio do nosso time do coração, ir ao teatro, cinema, enfim… Férias! Isso tudo na nossa única semana de férias de julho… Vida de candidato a psicanalista é assim: muito desejo de ampliar recursos internos e pouco recurso financeiro para realizá-los…
Mas sofremos um acidente… Isso mesmo. Sofremos, no plural; e acidente, batida de carro, quando não se é agente ativo da situação. 
Estávamos Maíra, eu e os meninos (sim, eles estavam conosco!) chegando em São Paulo quando um caminhão, desses pequenos, saiu da primeira faixa da direita e veio, em duas rodas!, DUAS RODAS!!!, para cima do nosso carro, que estava cinco faixas à esquerda. Coisa de cinema, mas que só se quer ver na telona e nunca numa tela do seu parabrisa!
Desvio o possível do caminhão, bate a lateral do carro, estoura os airbags, carro em cima do canteiro central. Olho para o lado e vejo a Maíra bem (ufa!) e busco coragem, em milésimos de segundos, para olhar para trás para ver como os meninos estão… Assustados, muito assustados, mas bem (alívio imenso!).
Desço do carro, vejo o caminhão atrás, tombado, nenhum movimento vindo de lá, mas o movimento que vem do banco de trás do meu carro é muito mais importante e prioritário. As crianças chorando e tentando entender o que havia acontecido. Como explicar se nem nós sabíamos?
Do outro lado da pista aparece um bom rapaz, também assustado, tentando ajudar e que, sem saber, ao mesmo tempo me faz entrar em contato com a gravidade do que acabara de acontecer e me trás de volta para a realidade. Ele verifica que estamos bem e vai ver o caminhão… Volta dizendo que também estão bem. Ufa!
Alguns minutos depois chegou resgate, polícia, guincho, etc. Todos muito bem preparados e atenciosos! Repetiram exames para terem certeza de que estávamos todos bem, principalmente os meninos, fizeram bexigas de luvas cirúrgicas para trazer um pouco de alegria para os meninos, entre outras formas que encontraram de nos acalmar.
Quando já estávamos dentro da ambulância para podermos sair do canteiro central e irmos para um posto de gasolina mais próximo, o rapaz do resgate nota que estamos bem, brincando com os meninos e respondendo às inúmeras perguntas que o Pipo fazia sobre os aparelhos da ambulância e diz: “Olha, eu nunca vi pessoas tão tranquilas e calmas depois de  tudo o que vocês passaram e a gravidade do que poderia ter acontecido no acidente…”.
A Maíra então respondeu, com bastante naturalidade: “é que nós somos psicólogos e já fizemos muitos anos de análise…”. 
“Ah, bom!”, diz o rapaz. 
Dirigir o carro com a sua família dentro, as pessoas que você mais ama, ser o responsável direto, naquele momento, pela vida deles, é algo muito sério! Será que a vida é realmente diferente disso? Eu e a Maíra dirigimos juntos o carro da nossa família. Tomamos decisões que afetam diretamente as vidas das pessoinhas mais importantes para nós, tentando em cada situação, mesmo as extremas, preservar aquilo que nos é mais caro: a nossa mente e as deles!
Acredito que esta seja uma das principais funções dos pais: criar condições saudáveis para o desenvolvimento emocional dos filhos. E, para tanto, é fundamental que os pais possuam uma mente que suporte as próprias angústias para, então, conseguir suportar junto com os filhos as angústias deles.
Não sei se nas duas horas que se seguiram ao momento da batida o que nos deu força para acalentar os meninos e não deixá-los ainda mais assustados foi uma defesa da nossa mente (negação? cisão?) ou uma condição interna bem desenvolvida. Independente do que tenha sido, e sinceramente acredito que isso pouco importa, foi o possível diante da situação e, ao mesmo tempo, extremamente necessário!
Sobre as férias? Conseguimos aproveitá-las… Penso que a vida, como o amor, está no “apesar”! E, apesar do ocorrido e das consequências chatas, conseguimos aproveitar as nossas férias…