quinta-feira, 18 de dezembro de 2014

Batidas e trombadas

Imagine a seguinte situação: você está no centro da sua cidade, indo resolver um problema que poderia ser facilmente resolvido por telefone - mas não no Brasil -, pára (acho um absurdo terem retirado o acento e você não saber mais se a pessoa está conjugando um verbo ou não) numa esquina e aguarda a pessoa do carro da frente andar.
Esse carro fica uns 2-3 minutos parado, pois a condutora está conversando com uma vendedora da loja da esquina. Ela resolve finalmente estacionar. Tudo bem que é numa vaga reservada para quem quer ir na farmácia que é logo ali, atravessando a rua, mas essa responsabilidade não é minha. Deveria ser dela, mas claramente ela não pensa que pode ter alguém que realmente precise ir na farmácia e, portanto, estacionar naquele lugar. São os famosos "5 minutinhos".
Enfim, a condutora do carro resolve dar ré e, mesmo você estando 1,5m de distância começa a ficar preocupado, pois ela está indo em direção ao seu carro. Você dá aqueles 2 toques na buzina para avisa-la: "moça, estou aqui". Mas ela continua firme na sua empreitada alucinatória achando que só existe o carro dela naquela hora (11h da manhã) naquele local (centro da cidade, alguns dias antes do Natal).
Você começa a ficar muito preocupado e começa a buzinar mais e DESESPERADAMENTE, vendo o que aconteceria em mais ou menos 10 segundos. Tenta você mesmo engatar ré para sair da mira da digníssima senhora, mas, como ela já está há algum tempo atrapalhando o trânsito, você não tem escapatória. E, finalmente, para deleite de alguns transeuntes, ela CONSEGUE bater no seu carro.
Confesso que até aí eu dou conta de suportar... nós erramos, estamos sujeitos a isso toda vez que saímos de casa. Eu mesmo já bati algumas vezes... Meus pais são testemunhas (financeira) disso. Entendo que estes são os nossos pequenos momentos de surto psicótico. Porém, quando você sai do carro e percebe que a parte psicótica da personalidade é a que predomina no funcionamento mental da senhora que bateu no seu carro, a D. Aparecida, aí fica difícil de suportar...

DIÁLOGO
ELA: "Ah, não! Bateram no meu carro de novo!!!", ela exclama inconformada e continua "Não faz uma semana que eu arrumei ele!!!"
EU: "Bateram!?!?!? A senhora que deu ré e bateu no meu carro..."
ELA: "E por que você não me avisou?", ela pergunta.
EU: "Mas minha senhora, eu estava buzinando esse tempo todo! A senhora não ouviu?", pergunto já meio zonzo com a própria pergunta dela...
ELA: "E por que você não desceu do carro e me avisou???", brava!
EU: "Hein????????" (pensando). "Eu vou descer do carro para te avisar?"
ELA: "Ah, sei lá... Tinha que ter me avisado"
Nessa hora escuto alguém da calçada: "O senhor bateu atrás, o senhor está errado!!!"
EU: "Mas eu estava com o carro parado! Ela que deu ré", respondo para o vento, ou para a cabeça de vento...
CABEÇA DE VENTO: "Eu sei, mas quem bate atrás, tá errado!!!". Identifico a senhora da calçada que vira a esquina falando mais alguns absurdos, e jogando o que restou de seu cigarro no chão. Claro!!! No chão... Onde mais?
ELA: "Eu não vou pagar por isso não!!! Cada um paga o seu!"
EU: "Mas a senhora que bateu no meu carro! Eu estava parado... ainda tentei te avisar... Por que que eu que tenho que pagar???"
ELA: "Ah, não quero saber... Cada um paga o seu. Eu não tenho dinheiro para isso não"
EU: "E para fazer cagada precisa ter dinheiro?" (pensando). "Precisamos fazer um boletim de ocorrência. Vamos numa delegacia", convidando.
ELA: "Mas você vai chamar a polícia só por isso???"
EU: "Minha senhora, a gente precisa fazer um boletim de ocorrência, por causa da seguradora..."
ELA: "Ah não... não tenho tempo para isso não. O senhor tire o seu carro por favor porque o senhor está me atrapalhando!!!"

Pois é... EU que estava atrapalhando a D. Aparecida. O MUNDO deve atrapalhar a D. Aparecida!
D. Aparecida, me desculpe... eu sinceramente preferia não ter te atrapalhado hoje de manhã. Preferia ter ficado no consultório e ter feito meu grupo de estudos e não morar num país em que coisas como essa acontecem... Não digo a batida de carro, mas a "trombada" que foi, para a minha já tênue esperança no nosso país, ter esse diálogo com a senhora...
D. Aparecida, um Feliz Natal para a senhora, com um Ano-Novo muito rico em saúde, prosperidade e muitas conquistas. Torço muito para que a senhora ganhe na mega-sena da virada, contrate um motorista e não precise dirigir... NUNCA MAIS!!!

D. Aparecida, um fraterno abraço para a senhora.