Imagine a seguinte situação: você
está no centro da sua cidade, indo resolver um problema que poderia ser
facilmente resolvido por telefone - mas não no Brasil -, pára (acho um absurdo
terem retirado o acento e você não saber mais se a pessoa está conjugando um
verbo ou não) numa esquina e aguarda a pessoa do carro da frente andar.
Esse carro fica uns 2-3 minutos
parado, pois a condutora está conversando com uma vendedora da loja da esquina.
Ela resolve finalmente estacionar. Tudo bem que é numa vaga reservada para quem
quer ir na farmácia que é logo ali, atravessando a rua, mas essa
responsabilidade não é minha. Deveria ser dela, mas claramente ela não pensa
que pode ter alguém que realmente precise ir na farmácia e, portanto,
estacionar naquele lugar. São os famosos "5 minutinhos".
Enfim, a condutora do carro
resolve dar ré e, mesmo você estando 1,5m de distância começa a ficar
preocupado, pois ela está indo em direção ao seu carro. Você dá aqueles 2
toques na buzina para avisa-la: "moça, estou aqui". Mas ela continua
firme na sua empreitada alucinatória achando que só existe o carro dela naquela
hora (11h da manhã) naquele local (centro da cidade, alguns dias antes do
Natal).
Você começa a ficar muito
preocupado e começa a buzinar mais e DESESPERADAMENTE, vendo o que aconteceria
em mais ou menos 10 segundos. Tenta você mesmo engatar ré para sair da mira da
digníssima senhora, mas, como ela já está há algum tempo atrapalhando o
trânsito, você não tem escapatória. E, finalmente, para deleite de alguns transeuntes,
ela CONSEGUE bater no seu carro.
Confesso que até aí eu dou conta
de suportar... nós erramos, estamos sujeitos a isso toda vez que saímos de
casa. Eu mesmo já bati algumas vezes... Meus pais são testemunhas (financeira)
disso. Entendo que estes são os nossos pequenos momentos de surto psicótico.
Porém, quando você sai do carro e percebe que a parte psicótica da
personalidade é a que predomina no funcionamento mental da senhora que bateu no
seu carro, a D. Aparecida, aí fica difícil de suportar...
DIÁLOGO
ELA: "Ah, não! Bateram no meu carro de
novo!!!", ela exclama inconformada e continua "Não faz uma semana que
eu arrumei ele!!!"
EU: "Bateram!?!?!? A senhora que deu ré e bateu
no meu carro..."
ELA: "E por que você não me avisou?", ela
pergunta.
EU: "Mas minha senhora, eu estava buzinando esse
tempo todo! A senhora não ouviu?", pergunto já meio zonzo com a própria
pergunta dela...
ELA: "E por que você não desceu do carro e me
avisou???", brava!
EU: "Hein????????" (pensando). "Eu vou
descer do carro para te avisar?"
ELA: "Ah, sei lá... Tinha que ter me
avisado"
Nessa hora escuto alguém da calçada: "O senhor
bateu atrás, o senhor está errado!!!"
EU: "Mas eu estava com o carro parado! Ela que
deu ré", respondo para o vento, ou para a cabeça de vento...
CABEÇA DE VENTO: "Eu sei, mas quem bate atrás, tá
errado!!!". Identifico a senhora da calçada que vira a esquina falando
mais alguns absurdos, e jogando o que restou de seu cigarro no chão. Claro!!!
No chão... Onde mais?
ELA: "Eu não vou pagar por isso não!!! Cada um paga
o seu!"
EU: "Mas a senhora que bateu no meu carro! Eu
estava parado... ainda tentei te avisar... Por que que eu que tenho que
pagar???"
ELA: "Ah, não quero saber... Cada um paga o seu.
Eu não tenho dinheiro para isso não"
EU: "E para fazer cagada precisa ter
dinheiro?" (pensando). "Precisamos fazer um boletim de ocorrência.
Vamos numa delegacia", convidando.
ELA: "Mas você vai chamar a polícia só por
isso???"
EU: "Minha senhora, a gente precisa fazer um
boletim de ocorrência, por causa da seguradora..."
ELA: "Ah não... não tenho tempo para isso não. O
senhor tire o seu carro por favor porque o senhor está me atrapalhando!!!"
Pois é... EU que estava
atrapalhando a D. Aparecida. O MUNDO deve atrapalhar a D. Aparecida!
D. Aparecida, me desculpe... eu
sinceramente preferia não ter te atrapalhado hoje de manhã. Preferia ter ficado
no consultório e ter feito meu grupo de estudos e não morar num país em que
coisas como essa acontecem... Não digo a batida de carro, mas a
"trombada" que foi, para a minha já tênue esperança no nosso país,
ter esse diálogo com a senhora...
D. Aparecida, um Feliz Natal para
a senhora, com um Ano-Novo muito rico em saúde, prosperidade e muitas
conquistas. Torço muito para que a senhora ganhe na mega-sena da virada,
contrate um motorista e não precise dirigir... NUNCA MAIS!!!
D. Aparecida, um fraterno abraço
para a senhora.